quinta-feira, 19 de julho de 2007

O Papel do Jornalismo (ou 17-07-2007/2)

É de minha natureza procurar outros pontos de vista. Frizo bem: sem esquecer ou tentar diminuir os já propostos e com os quais concorde. Acredito que é através da confrontação (já que "discussão" é hoje uma palavra "politicamente incorreta") que o ser humano evolui, pois que é questionando seus princípios enraizados que ele os atualiza ou até mesmo descarta e substitui.
Saint-Exupéry dizia que a Vida é como uma árvore e que o ser humano é como uma folha dessa árvore: apenas a vê de sua prespectiva, os poucos galhos que contempla, parte dela. Só Deus é do tamanho da árvore. Porisso gosto de fazer pensar, muitas vezes mostrando outra perspectiva (a minha) da mesma árvore.
Não é que eu descarte os erros (e graves) que estão sendo cometidos durante toda esta crise do "caos aéreo" e mesmo anteriores a ela e nem que eu não pense que a situação esteja insuportável e que deva ser revoltante aguardar horas, senão dias, num saguão de aeroporto. Já escrevi aqui mesmo, no entanto, que atrasos sempre houveram desde Santos Dumont, devido a neblina, chuva, vento ou qualquer outra condição metereológica que torne os vôos perigosos. Aí a culpa não é do Lula, não é da Infraero, não é dos controladores de vôo, não é do Papa... é de São Pedro.
O meu receio é que o Jornalismo, ao ser tendencioso, crie também tendências, nos torne tendenciosos. Aparentemente existe por parte de uma parcela dos meios de comunicação uma atitude mórbida de não analisar esses atrasos, creditando a Deus ou ao diabo a causa por eles. Tudo é culpa de algum diabo, e humano, que parece ter prazer em criar filas em aeroportos e fazer pobres coitados dormir em saguões. E não é bem assim.
Aparentemente também, a partir dos dados analisados até agora, o acidente do Airbus A-320 3054 de terça-feira não tem a ver com a liberação da pista do aeroporto de Congonhas após reforma. Parece mais serem causas humanas, mecânicas e/ou elétricas da própria aeronave, o que, convenhamos, também pode acontecer com nosso carro (com bem menos vítimas, é verdade).
Pelo que eu tenho conhecimento, a partir de entrevistas com técnicos especializados, o restante da obra, que deve ser realizada no próximo mês, apesar de aumentar a segurança da pista, não é fundamental e a pista, mesmo como está, já é mais segura do que era. Repito... de acordo com os técnicos que ouvi.
No entanto, fica minha pergunta: será que a pista teria sido liberada sem a conclusão integral da obra não fosse o atual caos aéreo? Será que, em condiçoes normais, sem pressões da sociedade, influenciada pela pressão da Imprensa, a gente não aguardaria sossegado o término das obras? Será que a Imprensa, no intuito de polemizar e/ou ganhar audiência, não nos transformou em espectadores tendenciosos dos fatos, enfiando sempre no mesmo saco problemas que não são sempre os mesmos? Ou seja: será que uma atitude não gerou (ou, pelo menos, influenciou) a outra? Será que uma análise superficial da situação de parte da Imprensa não criou uma revolta popular que, para ser minimizada, gerou a liberação em etapas da pista, que gerou novas críticas por parte da Imprensa, que gerou nova revolta, que gerou outra...
Como disse antes, o caos existe, os controladores pressionam (ironia, talvez até para que se opere com mais segurança, certo?), o governo se omite, a Infraero exime-se de culpa culpando pilotos americanos. Tudo isso eu sei. Mas sei também que estamos no inverno e que em muitas manhãs acordaremos com neblina sob nossas cabeças e aeroportos fechados... e que não há controlador que consiga, mesmo usando ventiladores ou leques, contornar esta situação.

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