sexta-feira, 22 de junho de 2007

Globo Geographic

Quem assistiu a "Boa Noite e Boa Sorte", o filme de George Clooney, teve uma bela lição sobre integridade na Imprensa. Falando sobre o Senador McCarthy e sua Caça às Bruxas (no caso eventuais comunistas) durante a década de 50 nos EUA, o filme aborda a luta do âncora de TV Edward R. Morrow (David Strathairn) e sua equipe contra o senador e a onda de perseguições sem provas perpetrada por ele. Luta travada e ganha. O filme abre-se com um discurso de Morrow falando do quanto ele temia o futuro e o desaparecimento do jornalismo investigativo em Rádio e TV, em benefício do jornalismo tratado com entretenimento, leve, sem conteúdo especulativo.
E ele estava certo. Um exemplo disto são os formatos que hoje campeam na TV, privilegiando muito mais o espetáculo, o emocional, o descartável. Um exemplo, programas do tipo "David Leterman" (copiado aqui pelo "Programa do Jô"). Temos piadas, temos música, temos muito mais risos que pensamentos flutuando pelo estúdio. Porque pensar, cansa e pode afastar a audiência, o público já condicionado a cansar-se rápido. Mas para mim, o exemplo mais claro e acabado deste jornalismo sem profundidade, que entretém mas pouco influencia, que agrada mas pouco incomoda é a atual fase do "Globo Reporter". Onde estão as reportagens profundas que mudaram a cabeça dos espectadores, que geraram discussões acaloradas pelas salas e escritórios, que fizeram pensar, cobrar, indignar e pedir por mudanças os brasileiros? Pois este programa que foi criado para justamente poder aprofundar mais os assuntos rapidamente abordados nos jornais diários, morreu. Hoje o que se tem, 4 entre 5 programas são programas interessantíssimos sobre os urubus das Ilhas Galápagos, as cobras da floresta amazônica, os tubarões de Fernando de Noronha. Um programa financiado pela National Geographics não faria melhor, não seria mais "animal".
Existem, é claro, prováveis motivos para a escolha deste tipo "ecológico" de assunto. Chuto dois: audiência fácil, já que nove entre dez pessoas adoram bichinhos (e bichões), e custo, já que estes programas quase sempre são comprados no mercado internacional a preço baixo. Claro que existem, mesmo no "Globo Reporter", exceções. Porém, na maior parte das vezes, o jornalismo investigativo se foca em dietas, avanços médicos, higiene e saúde. Mais uma vez, assuntos gerais e sem possibilidade de criar tendências; aparentemente, existe hoje uma necessidade disfarçada de "não se posicionar". Mostrar e não explicar, desdobrar, aprofundar.
A Globo, no entanto, gosta de demonstrar sua coragem através do jornalista Tim Lopes. Mas, Cristo, ele morreu investigando o tráfico em bailes funk. Não foi por mordida de cobra na Chapada Diamantina! Ao invés dos urubus das Ilhas Galápagos, onde estão os que vende drogas a nossas crianças nas portas das escolas? Onde estão os tubarões que fazem escoar pelo ralo o dinheiro de nossos impostos? O povo é desrespeitado pelos saguões dos aeroportos e nenhuma reportagem procurando as causas do apagão aéreo, com entrevistas, com depoimentos, com denúncias. Mostram-se os fatos e não as verdades por trás dos fatos. Corruptos escapam ilesos de CPIs, de investigações policiais, provas são desconsideradas e onde estão as reportagens desembaraçando os novelos, eslarecendo os fatos, as origens, as consequencias? Fica mais fácil, sim, falar sobre o que é leve, sobre as novas tendências da moda, sobre a migração das aves, sobre a extinção das espécies. Dá-me pena porém perceber que uma das espécies em extinção é a do puro e simples jornalismo inteligente. Em extinção, não; sumiu faz tempo.

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